Preliminares

Leio hoje com espanto uma crónica no JN do jornalista Daniel Deusdado que alude o já saudoso Nelson Mandela a um bombeiro no seu tempo. Esses, todos os anos são "madibas" no inferno que enfrentam todos os verões. Alude o respeitado jornalista também ao relatório preliminar subscrito por Xavier Viegas. Umas páginas atrás já se lia o comentário do Sr. Secretário de Estado em que dizia ser prematuro atribuir morte a negligência quando se refere às mortes ocorridas este ano. Oito só para lembrar. Diz o mesmo que, o que conhecemos até agora "é apenas um relatório preliminar". Estará o governo à espera de uma conclusão diferente no relatório final que deve estar pronto para o próximo verão? Estará a duvidar que mesmo sendo preliminar as conclusões apresentadas por Xavier Viegas são mais credíveis que qualquer outro relatório que venha a lume. Esse senhor, professor, investigador e muito mais, já deu mais a conhecer em matéria de incêndios florestais que qualquer outro tecnocrata de meia tijela armado em entendido. Veja-se o relatório do incêndio no Algarve em 2012 e tirem as conclusões óbvias. O problema é que não se dá ouvidos à insistência das vozes que reclamam formação, mas mais do que isso, fenomenos que hoje acontecem numa floresta desorganizada e com falta de limpeza. Falo naturalmente de fogos eruptivos que infelizmente ceifaram já a vida a alguns bombeiros e, salvo melhor opinião, poderão estar na origem de uma ou outra trajédia ocorrida este ano. Os dinossauros do combate pensam que o comportamento do fogo será sempre o mesmo e os "maçaricos" ainda não ouviram falar sobre isto!  
Ouçam senhores governantes e responsáveis pelas operações o que deve ser dito e sobretudo o que deve ser corrigido nesta matéria. Não se escondam atrás de preliminares para escaparem a conclusões óbvias porque como devem saber os preliminares são por vezes tão ou mais importantes que o resto... 
Para o ano haverá mais do mesmo, porque nada é feito e um dia destes teremos o Xavier cansado de falar, escrever e ensinar e aí sim, arde tudo!

Comentários

  1. É impossível combater incêndios numa floresta cada vez mais “eucaliptizada” e com uma natural diminuição das terras cultivadas que serviam de áreas de descontinuidade.
    É muito perigoso entregar o comando das operações a pessoas, que na melhor das suas intenções, ali chegaram através de nomeação política e que nunca sentiram o calafrio de olhar o inimigo nos olhos a meia encosta.
    É suicida entregar a táctica do combate a pessoas que, à falta de melhor, se voluntariam para comandar homens e que para além de cursos da ENB nada mais sabem de incêndios florestais.
    É de uma culpa criminosa despejar homens e mulheres nos Teatros de Operações, sem a preocupação mínima de aferir se têm as condições de conhecimento, treino, robustez física/psíquica e rotação no trabalho.
    Soluções?
    Semi profissionalização no combate, permitindo assim estabelecer um dispositivo com uma base sólida de combatentes com as características adequadas, secundados por equipas de apoio em tarefas como o rescaldo ou vigilância. Claro que para isso teria que se pagar em concordância com a função…
    Criação de uma estrutura logística eficiente, onde a palavra logística não se ficasse pelo combustível para os veículos e umas sandes.
    Esta função poderia ser desempenhada por quem tem a tradição, conhecimento e equipamento para tal, as Forças Armadas. Assim, teríamos elementos do Quadro de Comando concentrados nas suas funções em vez de estarem agarrados aos telemóveis a contactar o restaurante lá da terra para “desenrascar” umas refeições.
    Aumentar o número de Bases de Apoio Logístico (BAL), evitando assim a deslocação prolongada entre TO`s e as BAL, permitindo um descanso efectivo das forças que não estão no momento envolvidas no combate mas que serão mobilizáveis.
    A falta de descanso é sem sombra de dúvida um dos factores exponenciais para o acidente.
    Nomeação de Quadros de Comando dos Corpos de Bombeiros Voluntários tendo como base a competência através de um concurso imparcial e não por um conjunto de pessoas que sem competência técnica, nomeiam muitas das vezes aqueles que se lhes afiguram serem doceis executantes das suas ambições colectivas ou individuais.
    Separação da parte operacional da parte associativa. Hoje, os Bombeiros têm que se preocupar com a formação/treino, organização operacional, motivação dos operacionais e não devem “perder” tempo em actividades para financiamento das Associações, esse, deve ser o trabalho das Direcções.
    Criação de uma estrutura nacional de Bombeiros, onde fosse possível doutrinar normas e procedimentos adequados aos Bombeiros e responsabilizar a estrutura.
    Por fim e mais importante, uma política florestal adequada ao nosso território.
    Neste aspecto, não opino, pois não tenho conhecimentos técnicos que me levem a propor uma solução, apesar de me considerar uma pessoa atenta e já ter participado em diversos fóruns onde foram apresentadas diversas soluções.
    Muitas mais soluções são conhecidas, como uma rápida detecção do foco de incêndio através de uma vigilância eficaz, uma fiscalização policial dissuasora, sensibilização dos poderes políticos locais para a implementação de locais de abastecimento de água, caminhos florestais transitáveis, desmistificação do dolo nas causas dos incêndios esclarecendo a população dos comportamentos de risco e outras soluções que todos os anos fazem correr litros de tinta nos tão famosos relatórios.
    Por fim, se me é permitido, um conselho aos meus colegas Bombeiros, em Maio leiam a literatura que existe sobre incêndios florestais, sobretudo, o que não se deve fazer (fogo de supressão sem o devido enquadramento) onde não se deve estar (encostas com a frente de incêndio a subir) e claro, verificar os veículos antes de longas deslocações (principalmente pneus) e muito cuidado com as deslocações longas com os condutores exaustos.

    ResponderEliminar

Enviar um comentário

Mensagens populares deste blogue

Direcção e Comando dos Bombeiros de Cuba não se entendem

Directiva Operacional Nacional 2011

As Razão das Cruzes